Inocentemente Culpado

Há dias em que tudo o que fazemos é observar o mundo que nos rodeia. Ver como as pessoas reagem às nossas atitudes e posturas. O problema maior é quando nós tomamos uma atitude baseado na falta de atitude dos outros e, mesmo assim, há quem fique a pensar que o problema somos nós. É excepcionalmente incrível e anedótico. É por isso que, no meu entender, considero ser essencial uma introspecção sobre a forma como agimos perante os outros. Pensar nos nossos actos, avaliá-los, julgá-los pela perspectiva do outro e chegar à conclusão de que, talvez, o erro seja nosso. Existem duas vertentes, dois caminhos, que podemos seguir.

A culpa não é minha!
Claro que não. A culpa é dos outros que me afectam. Eu não fiz rigorosamente nada. Limitei-me a ser eu próprio, a ser diferente. Nunca mudei a minha forma de ser, sempre fui assim. Não fui eu que me desliguei, não fui eu que me fiz aquilo que disse que nunca faria. Eu fui sempre íntegro perante aquilo que defendi.

A culpa é minha!
Sim, minha. Porque dei oportunidades e mais oportunidades. Porque tive oportunidades de cortar essa ligação que existia e nunca o fiz. Eu devia ter falado quando algo estava mal e não o fiz. O que fiz foi assumir como erradas as minhas atitudes e deixei-me levar pelas coisas, essas coisa, até ao ponto em que tu decidiste pisar-me, fazer de mim o que querias. A culpa é apenas minha porque errei contigo e, ao errar contigo, errei também comigo.

Dois factores tão distintos. Qual deles o certo ou o errado? Será que há um certo e um errado? Não fui eu que desperdicei a minha vida a ser uma desilusão. Não fui eu que me tornei a pessoa que sempre odiei. Não! Eu limitei-me a ser a pessoa que gostava que fossem para mim e, a meio de tudo de bom que dei, acabei a ser a pessoa que ficou mal vista. Porquê? Porque fui eu próprio, fui fiel aos meus princípios, fiel a tudo o que me ensinaram e a tudo o que aprendi com os outros sobre o que quero ou não quero para mim. Tu sim, tu mudaste. Tu, que precisaste que alguém pior que tu te fizesse sentir a última bolacha do pacote. Tu, que precisaste que alguém pior que tu te metesse num nível superior aos outros. Tu, que precisaste de alguém pior que tu para te tornares uma pessoa mesquinha, conflituosa, com a mania que tens o mundo contra ti quando, a bem da verdade, o tempo tem mostrado que não é o mundo que está contra ti. Tu estás contra ti. Tu, que preferiste largar quem deu tudo de si por ti, tudo o que tinha e tudo o que não tinha e mais um bocadinho.

Tu chegaste ao ponto em que te deixei consumir todas as minhas energias, reservas incluídas. Só que agora não tens volta a dar. Os teus conflitos, são só teus. A tua necessidade de captares a minha atenção é só tua. Eu não vou olhar para ti só para que possas dizer que é inveja ou que tens a minha aprovação. Isso era quando eu me preocupava. Isso era quando tu demonstravas por atitudes que as palavras que dizias eram sinceras. Avisei-te vezes sem conta, que o pior erro que alguém pode cometer comigo é pensar que eu sou um dado adquirido. E tu olhaste para mim como algo seguro, adquirido, algo que já não foge. Duas notas: eu não sou um dado adquirido e não sou algo. Eu sou alguém que, independentemente da minha condição e do meu "estatuto" na tua vida, podia ser um pequeno grande mundo que sempre (repito, SEMPRE) te puxou para cima. É uma pena que tu tenhas decidido ser outra pessoa e dar valor a pessoas que apenas te vão tentar sugar a alma até tu ficares pior do que algum dia estiveste.

Afinal, a culpa nunca foi minha. E logo eu, que sempre me assumi como culpado.


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