Eu e a Escrita

« A vida dá muitas voltas? Então eu darei quantas voltas forem precisas até acertar na saída! »

Por vezes questiono-me sobre tudo o que acontece no meu quotidiano e na vida daqueles que me são próximos. Nem sempre é fácil perceber os motivos de uma decisão ou de um acontecimento. Só que a vida, tal como uma roda, gira até que chega a altura de parar. E ali fica, num estado sem qualquer tipo de cinética até que volta a girar, partindo para outros destinos, para outras rotas. São pequenos detalhes que nos preenchem e nos moldam como pessoas. Porém, o caminho é um autêntico mistério. Uns escapam com pequenas mazelas que são curadas pelo tempo, outros, ficam com essas marcas para todo um sempre e isso afecta a forma como continua a girar. O segredo para continuar está na força, na dedicação, no empenho.

Recentemente, numa conversa, questionei-me sobre algo que se tem vindo a vincar cada vez mais com o passar dos anos. Trata-se de algo tão simples que se define numa só palavra "desabafo". Um pouco à imagem do que tenho digitado neste espaço de forma irregular, mas suficiente para as voltas que o meu pensamento dá. Nem tudo são desabafos, mas todos os escritores têm o dom de, mesmo no seu conto mais fantástico, deixar um pouco de si, um traço seu, da sua personalidade ou de algum acontecimento da sua vida e até mesmo fantasias que nasceram na sua própria cabeça. Dizia-me uma pessoa:
«...e acho que a tua escrita é para substituir o que contavas se estivéssemos a falar desabafas para te sentires bem , ao invés de pedires opiniões a outros sobre o que se está a passar...»
Sim, é verdade. Muitas das vezes é para isto mesmo que serve a minha escrita. Hoje não será excepção e o texto será mais longo por isso. Só que há um senão nisto tudo.Tal como disse anteriormente, recentemente questionei-me sobre estes desabafos. Se eu os fizer, serei um fraco a tentar passar por coitadinho. Se eu não o faço, estou a ser uma pessoa que se arma em forte. Portanto, devo eu falar ou não? Eu digo que sim e apenas isso me interessa. Desta linha para baixo, deixo a ressalva; lê quem quer. Aqui, ficará exposto muito da minha vida pessoal da forma mais crua possível.

Há algum tempo atrás, fui apanhado nas teias da depressão. Tinha 15 primaveras quando tudo começou, atingindo o pico aos 16. Já tinha sido alertado para a possibilidade de me tornar uma pessoa negativa, nunca pensei que fosse desta forma. Assim foi. Só aos 18 anos comecei a ter acompanhamento profissional, felizmente, sem recurso a medicação. Se mudei algum aspecto da minha personalidade, foi a minha forma de demonstrar o que  sentia e aprendi a disfarçar o que estava mal. Fechei-me cada vez mais e parcas foram as vezes que desabafei sobre algum assunto. Nem mesmo quando a minha única relação que tive nessa fase terminou, eu fiz questão de dizer o que estava mal. Um aspecto que não mudei, foi a forma como dei a mão a todos os que precisavam. Muitos foram aqueles que decidiram esquecer-se da minha existência, ajudando a cimentar um vazio que crescia em mim. Conheci algumas pessoas fantásticas pelo meio, não muitas e todas elas continuam na minha vida. No entanto, sempre andei aos altos e baixos e apenas uma pessoa reparou nisso. Tentou ajudar-me até ao dia em que eu cometi o erro de dizer coisas que não sentia nem queria. Curiosamente, já tinha mergulhado novamente nesse mar depressivo, levando-me a cometer erros, a criar ilusões...foi como se tudo se repetisse, mas de uma forma mais desperta, mais real. O resultado foi ter perdido essa única pessoa, que me levou a fechar em copas. Tentei por tudo afastar as pessoas de mim e não consegui. Quanto mais afastava as pessoas, mais elas se aproximaram.

Eu estou bem, acreditam? Estou animado com os desafios que tenho pela frente, mesmo que não retire nenhum tipo de prazer da maioria das coisas que faço e gosto. Só que tenho esta "maldição" que me acompanhará até ao dia em que alguém batalhe lado a lado comigo e que me dê no silêncio de um abraço o conforto que eu procuro no meio dos ruídos que vão na minha cabeça. Claro, não pode ser um alguém qualquer. A outra hipótese, será ter estes altos e baixos até ao dia em que deite o meu último suspiro. Seja qual for, tudo isto fez-me ser a pessoa que dá tudo pelos outros e que não deixa ninguém para trás. Fez-me ser a pessoa que se cala e que observa.

Repito: não pretendo ser visto como um coitadinho. Muito menos espero que pensem que estou à procura de atenção como muitos vão pensar. Tudo o que procuro é algo tão simples como dar a entender a algumas pessoas aquilo que eu sou, talvez dar uma nova perspectiva aos textos aqui escritos até agora. Não contei tudo e havia muito mais para contar. Por agora, deixo apenas a minha vontade em querer ajudar tudo e todos, mesmo que eu não seja um Super-Homem, mesmo podendo eu quebrar. Porque o meu único desejo, o meu único pedido, resume-se a 6 palavras que oiço com tanta frequência e que ecoam na minha cabeça:
« Façam o favor de ser felizes » 

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