Sentir. Mentir. Fugir.


"Como é possível não sentires nada?", perguntam-me quando digo que nada sinto por ninguém. É simples: nós vivemos num mundo carregado de mentiras, cada uma com um peso diferente, mas que deixam a sua marca. Questiono-me sobre o motivo que leva a que as pessoas mintam e as respostas são várias. Há quem minta por medo, quem minta por querer esconder algo. Há quem minta para fugir dos outros ou para fugir daquilo que sente. Há até aqueles que mentem por não terem coragem para enfrentar a verdade. Em último lugar, encontram-se aqueles que mentem para esconder aquilo que são ou a forma como estão...é mais fácil dizer que se está bem quando se vive no caos do que pedir ajuda. Todos nós mentimos e cada mentira tem um peso diferente. O problema é quando essas mentiras afectam directamente as outras pessoas, aquelas de quem gostamos, família e amigos. Essas são as piores mentiras.

Confesso que quando me mentem, mesmo eu sabendo que estão a mentir, não me afecta tanto quanto pensam. Simplesmente desligo a ficha e quem me mente, além das devidas 'chapadas' que vai levar por eu dizer 'presente', vai deixar de receber a atenção que eu dava até ao momento da mentira. É claro, não é algo tão linear e certas mentiras eu aceito e compreendo, mas aquelas que eu vejo que são o fugir de algo, aquelas que realmente me fazem pensar, essas eu não desculpo. O que mais me custa é essas mentiras virem das pessoas que menos esperamos que o façam. O resultado é simples: eu deixo de me importar. A partir daqui, nasce o efeito dominó. Deixando de me importar, deixo de me preocupar. Deixando de me preocupar, deixo de sentir. E a soma das despreocupações leva à pergunta que abre este post. Sinceramente, estou cansado de todas estas mentiras, de todo este fugir e de todas estas ilusões com que bombardeiam os meus pensamentos e a minha pessoa. "Tens de acreditar", dizem-me. Eu já não acredito. "Tens de ser egoísta por uma vez na vida". Também não consigo. Eu dou tudo de mim e o que recebo são mentiras, mas pelo menos consigo dormir de consciência tranquila. Não importa o quão insensível me possa tornar ou o quão despreocupado com os outros me possa tornar. Eu não vou mudar aquilo que sou. Vou continuar a viver nesta realidade, por muito que na minha cabeça pinte uma realidade alternativa como sempre fiz.

Não sinto, não quero saber. Não tenho saudades de sentir nem sequer tenho saudades de ter saudades. Só sei que eu me vou manter honesto comigo próprio, independentemente de tudo. Talvez um dia tudo isto mude. Talvez alguém um dia tenha a coragem de entrar na minha realidade alternativa e a pinte com outras cores. Não que eu tenha esperança nisso, mas deixo a porta aberta a surpresas. Surpresas são sempre bem vindas.

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