O paralelismo do tempo sazonal e da evolução pessoal


É o tempo quem nos define. Sem o tempo, nós estaríamos presos a uma constante onde nunca mudaríamos a nossa forma de ser, estar e pensar. Nós agimos perante as mais variadas situações e evitamos cair num paradoxo que nos entrega ao conflito da nossa existência. Quantas vezes damos por nós, em situações idênticas, a agir de forma diferente? A culpa é do tempo, que nos permitiu aprender as consequências de determinados actos. Relutantes, insistimos na ideia de que estamos a fazer algo com uma perspectiva futura, quando na maior parte das vezes apenas deixamos o tempo passar por nós, quando devíamos ser nós a passar pelo tempo. Quantas vezes pensamos nós nisto?


As questões que levanto tendem a fazer-me não agir, porque a vontade de encontrar respostas é mais forte. Por culpa dessa vontade, abdico de outras coisas essenciais à minha existência. Abdico dos sentimentos, do que devia realmente fazer, das minhas paixões...abdico de passar pelo tempo. "Ser demasiado teórico não nos leva a lado algum". Estarei certo que muitos pensadores entrariam em desacordo comigo, mas esquecem-se que as linhas teóricas que estudam e/ou seguem só foram possíveis porque houve uma acção; a acção de publicar, de estudar. E o que tem isto a ver com o tempo? Tudo.

Eu gosto do tempo. Gosto, especialmente, das noites quentes do Verão e das noites com cheiro a Primavera. Aquele cheiro de frescura, de uma Natureza que se está a renovar...é flores, é ervas, é árvores...parece que todos os cheiros ficam mais intensos. E eu gosto tanto.



Sem sentido? Não. Olho para estas mudanças sazonais e reparo como o tempo me mudou ao longo de cada velho ciclo, outrora novo aquando da sua chegada. Não há Primaveras, Verões, Outonos nem Invernos iguais. Cada um é diferente, cada um é único, mas cada um tem um traço específico que mantém consigo. O que muda, maioritariamente, é a maneira como nós vemos e sentimos essas estações. Pessoalmente posso dizer que:

- No Inverno sou mais fechado e reservado. Gelo por dentro, gelo por fora;
- Na Primavera sou mais esperançoso. Continuo fechado sobre mim próprio, mas permito a chegada de algo que me mude;
- No Verão sou mais optimista. Quente por fora, ligeiramente menos frio por dentro;
- No Outono afasto-me da esperança e começo a fechar-me. Sou mais saudosista.

A todas as estações, é comum algum desses traços mudar, apesar do vazio ser uma constante. E quanto mais tempo passa, mais vazio me sinto.

É o tempo quem nos define. E quanto mais tempo passa, mais longe fico dos sentimentos e torno-me cada vez mais vazio. Mas neste momento estou esperançoso e espero que algo ou alguém me aproxime do que sinto. Espero que algo ou alguém acabe com este vazio.

Como eu gosto do cheiro de uma noite estrelada da Primavera!

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