A minha vontade de viajar...

Nunca escondi de ninguém, nem de amigos, que alimento o desejo de um dia viajar. Gosto de conhecer novas cidades, novas pessoas, novos ambientes e novas culturas. Algumas cativam-me mais que outras, mas nunca digo não a uma visita.

No passado Domingo, dia 8, deu-se o término da Semana Académica da Escola Superior de Tecnologias de Abrantes. Era lágrimas, sorrisos, últimas despedidas ou breves "até já" e algumas palavras que envolviam a minha cidade. Algumas das palavras dos estudantes, que decidiram arriscar vir para esta pacata e hospitaleira cidade, era a de que levavam Abrantes, a cidade, as suas gentes e os amigos que por cá fizeram (de outras cidades ou desta) no coração para toda uma vida. Concordo que também alguns e algumas desses/as finalistas me ficaram no coração e apesar de perceber o motivo de todos eles levarem Abrantes no coração, faz-me alguma confusão a forma como eles falam de como se Abrantes fosse o lugar maravilhoso que dizem ser.

Eu nada tenho contra a minha cidade. Penso que Abrantes tem potencial mais que suficiente para crescer a um nível bastante agradável. O problema é que eu vi esta cidade com vida. Lembro-me de, quando criança, querer ir para os baloiços do Castelo de Abrantes ou até mesmo dos Plátanos em Alferrarede. Lembro-me de estar em contacto com a Natureza quase diariamente. Lembro-me de quando começaram a derrubar mato para construir prédios onde, desde a sua construção, apenas meia dúzia de apartamentos são habitados. Claro que os números não são assim tão baixos, mas dada a oferta, é pouco. Muito pouco.

Lembro-me de uma Abrantes com vida nocturna, onde os jovens abrantinos se divertiam, conviviam independentemente do seu grupo e do seu estatuto social. Casos de violência ou roubo eram poucos, mas eram controláveis. Lembro-me de ir para casa com os meus amigos às 6h e 7h da manhã, passar noites inteiras nas ruas de Alferrarede, freguesia que me habito e que defendo com unhas, e dentes e não ter um único problema.

Muita coisa aconteceu desde estas memórias alegres. Hoje, não há parques para as crianças, à obras mal feitas, à estradas sem sentido, rotundas que não dão para lado algum, oliveiras compradas por milhares que podiam ser aplicados em coisas mais importantes, ainda por cima sendo Abrantes conhecida pelos seus olivais e pelo seu azeite de qualidade, não há vida nocturna e a que há ou tem de ser à base do secretismo ou tem de ser controlada para evitar distúrbios...e é uma cidade que, ultimamente, anda a crescer em violência e problemas relacionados com drogas e roubos.

Caríssimos, não se iludam. Abrantes não é uma cidade a temer. Abrantes é apenas mal gerida, mal cuidada e mal tratada por quem tem a obrigação de tratar da cidade como se fosse a sua própria casa. Poderia entrar pela linha da crítica política, pois considero que grande parte da culpa é das pessoas que nos representam na Câmara que só actuam quando o mal lhes acontece a eles (há histórias caricatas que espero abordar mais à frente), mas também dos próprios cidadãos abrantinos que na sua grande maioria fecham os olhos ou assobiam para o lado porque "está tudo bem" e os que têm coragem de falar, por norma, fazem-no de forma isolada.

Vi hoje, numa página de facebook dedicada ao concelho de Abrantes, o estado de algumas peças importantes do nosso Castelo. Eu, que tenho orgulho em ter um Castelo carregado de história e que se revelou importante na conquista de Portugal aos Mouros, fiquei desiludido (mais um bocadinho) com a minha cidade. É inadmissível que um tratamento de desprezo seja dado ao Castelo. Fica como nota que eu, abrantino nascido e criado, visito o Castelo regularmente. Não visito outros sítios onde tudo está "um brinco". (nota: visitem a página de Abrantes. A quem a gere, muitos parabéns pela qualidade e pelas imagens que mostram a quem está mais longe de nós).

Posto isto, o motivo que me levou a escrever este post, é o facto de a minha namorada, que habita em Leiria, partilhar regularmente coisas que acontecem na cidade; é o Estádio que vai abrir para ver os jogos da Selecção, é Teatro de Rua, é Feiras disto e daquilo, é festas que duram uma semana com GRANDES artistas...e eu pergunto-me "Porque ainda estou eu em Abrantes? Porque não saio eu daqui?"A resposta é simples; porque ainda não posso. Gosto de cidades dinâmicas. Abrantes já foi uma cidade dinâmica...cidade florida que faz uma festa das flores de uma tarde. Cidade de animação, que nem cinema tem. Cidade cujas festas duram uns míseros 4 dias e têm cartazes anedóticos demais para quem já trouxe The Kelly Family à uns valentes anos atrás, que tinha fogo de artifício que fazia chorar os céus, que me fazia pensar "quero viajar e conhecer, mas é aqui que quero viver". Hoje tenho 25 anos e mudei esse meu pensar. Hoje quero viajar e conhecer, mas em Abrantes...já não quero viver. O Hospital mal funciona. A vida nocturna é uma miragem. O Tribunal está para ser fechado. A segurança é apenas uma palavra bonita bradada aos quatros cantos e que ecoa pelo vazio desta cidade (repito: pelo vazio; devia ser pelas pessoas).

Eu percebo os estudantes, mas em Abrantes? Já nada é como dantes...e tenho pena que assim seja. Que evoluísse, mas que não se tivesse tornado numa cidade fantasma.

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